O NEPAL NÃO SAI DA GENTE
Lukla é a Babel do Khumbu. Um povoado nervoso, com tribos dos quatro cantos do mundo, cada qual falando seu próprio idioma. Carregadores chegam e partem a toda hora, trazendo ou levando tralha montanha acima. Tropas de jumentos e yaks lotam as vias principais abastecendo hospedarias e o comércio local. Cheguei encharcado, em meio a uma chuva fina e contínua, tão contínua que continuou por dias a fio.
Tem um aeroporto em Lukla que por si só vale uma visita ao povoado. A pista de pousos e decolagens é única, estreita, curta e inclinada. Inclinada! Os teco-tecos pousam subindo ladeira. E para piorar o estresse, a pista fica no topo de um morro, ladeado por montanhas mais altas. Talvez por isso eu tenha chegado andando, mas todos vêm mesmo é de avião. Inclusive Emiliano, Mariana e Beatriz, genro e filhas, com quem Rita e eu nos juntamos e seguimos viagem.
De Lukla em diante tudo mudou (veja o trajeto). O cenário é outro. Começa a alta montanha. As árvores vão diminuindo de tamanho e se espaçando cada vez mais para por fim sumirem. A vegetação toda vai rareando, rareando até acabar. A umidade vai diminuindo, a luminosidade aumenta, o frio chega e se intensifica, os picos nevados aparecem por todos os lados, e o sentimento é de deslumbramento e imensa solidão.
O cenário social muda também radicalmente. Os povoados são cada vez mais esparsos. Turistas andam em bandos coloridos e barulhentos. A economia gira toda em torno do turismo de aventura. Pelo caminho se encontram hospedarias, pequenos restaurantes, comércio de tralhas de acampamento, turistas de todos os cantos do mundo andando em grupos e procissões de carregadores levando 30 ou mais quilos de roupas de frio, saco de dormir e outros apetrechos de seus clientes.
De Lukla caminhei para Phakding, Nanche Bazar, Khumjung, Khumde, Tengboche, Dingboche, Lobuche e Periche, para depois voltar para Nanche e Lukla, completando cerca de 150 km de caminhada.
Passei ainda alguns dias em Lukla até acumular suficiente coragem para voar daquele medonho aeroporto até Kathmandu, e de lá voltar ao Brasil. E assim terminou minha primeira aproximação do Nepal.
Melhor dizendo, ainda não terminou. O Khumbu continua povoando meus sonhos, minhas lembranças, minha imaginação. A gente sai do Nepal, mas o Nepal não sai da gente.
.
SUPLEMENTO FOTOGRÁFICO:











Não tinha lido esse ainda! Nunca gosto de finais… (talvez por isso todos os meus diários de viagem nunca tem os ultimos dias..). Mas adorei! saímos dos lugares mas eles não saem de nós!!