EL SALVADOR: O REGRESSO
Entramos pela segunda vez em El Salvador, desta vez de carro, em Goascorán. Os trâmites de fronteira foram a tortura de sempre. De lá seguimos para San Salvador, capital.
Há não muito tempo, El Salvador foi palco de uma das mais longas e sangrentas guerras civis da América Latina, terminada em 1992. De um lado, a Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional, uma coalizão de cinco milícias de esquerda. De outro, um governo militar apoiado, adivinhem por quem, pelos Estados Unidos. Entre os dois, 75 mil civis mortos nos anos 80. As marcas desse conflito estão ainda em toda parte. No Museu de Arte de El Salvador, retratos doloridos desse período.
Os lugares de ricos e pobres estão bem demarcados na capital do país. Bairros sofisticados, com shoppings ao ar livre, restaurantes caros e gente bem cuidada andando em bonitos espaços de laser contrastam com uma periferia miserável e violenta e um centro feio, abarrotado de sacoleiros e barraquinhas com todo tipo de bugiganga chinesa. Qualquer semelhança com São Paulo e Rio de Janeiro é mera coincidência?
Tentamos passear pelo centro e conhecer a catedral da cidade, Iglesia El Rosario, mas não conseguimos chegar até ela. Estávamos a pé, indo em direção ao centro da cidade. Quanto mais nos aproximávamos do centro, mais a rua se congestionava de pessoas. Era a semana do natal, e muita gente comprava todo tipo de produtos dos vendedores ambulantes espalhados pela rua e pelas calçadas. Até que a uma quadra da igreja a rua e as calçadas estavam totalmente tomadas de gente a ponto de ser praticamente impossível governar nossos passos na direção escolhida. Algo comparável à estação Sé do metrô paulistano às 18 horas. Voltamos, a tempo de visitar o Museu Arqueológico Universitário, na mesma rua algumas quadras acima. Lá, uma pergunta procurava por respostas numa das salas: quem somos nós? O que nos caracteriza e diferencia El Salvador do resto do mundo?
No dia seguinte, após comermos feijão preto amassado, banana verde frita e ovo estalado (um café da manhã tradicional em toda a Centro-América), ainda passeamos pela cidade para depois seguir em frente. Paramos em Santana, uma cidade pequena em terras altas e montanhosas, a 100 quilômetros da Guatemala. Passamos nossa última noite em El Salvador no melhor hotel da cidade, antigo, grande e decadente, com escadas de mármore que denunciavam um passado de ostentação, e um restaurante escuro e quase vazio, onde jantamos e depois saímos para andar pelo centro. Partimos cedo no dia seguinte, rumo à Guatemala.