HONDURAS
Eram seis e meia da manhã quando saímos de Esteli. Ainda se viam alguns bêbados pela rua. Cem quilômetros adiante chegamos à fronteira no Paso El Espino. Estávamos apreensivos com relação à reação das autoridades de Honduras. Em Costa Rica encontramos um brasileiro radicado na Guatemala, descendo de carro para o Panamá. Disse que foi hostilizado em Honduras. O seu país está causando embaraços para o nosso, policiais hondurenhos disseram a ele na fronteira. Mesmo portando visto, teve que esperar oito horas na fronteira até ser liberada sua entrada.
Era cedo e a Aduana estava relativamente vazia. O agente policial do controle de imigração pediu nossos passaporte, viu que éramos brasileiros, inspecionou nossos vistos, constatou que foram emitidos em El Salvador e se desculpou pelo transtorno que tivemos para obtê-los. Disse que felizmente estavam marcadas eleições para resolver o impasse dos dois presidentes que o país tinha naquele momento, e que após a posse do novo não mais exigiriam vistos de brasileiros. Depois disso, ele nos levou pessoalmente pela gincana de balcões, carimbos, selos e inspeções do processo de entrada, facilitando nossos trâmites. Pelo caminho, falou que tem uma filha, casada com um brasileiro, que mora em Manaus. Tem dois netos amazonenses, que conhece por fotografia apenas.
Em meia hora estávamos liberados. Custamos a acreditar no que acontecera. A fronteira mais temida por nós em toda a América Central foi a mais tranquila e civilizada. A América Central é mesmo imprevisível e surpreendente.
Não passamos nem um dia em Honduras. Cruzamos 170 quilômetros da fronteira com Nicarágua à fronteira com El Salvador em um estirão. Temíamos encontrar pelo caminho simpatizantes do governo golpista, sabe lá o que poderia acontecer. Um temor desnecessário, depois concluímos. Honduras foi o único lugar que rodamos sem nossa bandeira hasteada.
Estávamos em dúvida se levaríamos uma bandeira brasileira hasteada na ONÇA. Pensávamos que talvez fosse um exibicionismo desnecessário. Depois concluímos que foi bastante oportuno ter trazido nossa bandeira. Em primeiro lugar, ela tem sido um fator de aglutinação. Brasileiros radicados em muitas das cidades por onde passamos vieram até nós atraídos pela bandeira, nos cumprimentar, perguntar de que cidade éramos, contar suas histórias, seus sonhos, suas desilusões. Além disso, é surpreendente como a bandeira chama a atenção de moradores locais. Nesta viagem, quantos e quantos argentinos, chilenos, peruanos, equatorianos, panamenhos, costa-riquenhos, nicaraguenses acenaram para nós contando que estiveram no Brasil em tal ano, que têm um parente morando no Brasil, comentando algo sobre alguma celebridade brasileira, ou simplesmente gritando “Brasil, Brasil”. Foram incontáveis histórias saboreadas com prazer, como a de um argentino que fugindo da ditadura foi viver no Braz, onde vendia alho e cebola de porta em porta. Esses contatos com gente simples, alegre, comunicativa enriqueceram muito nossa viagem.
Na hora do almoço cruzamos a fronteira com El Salvador.