SEGUNDO DIA DE TRILHA
Dormimos muito bem. Estávamos exaustos, o que garantiu uma noite de hotel cinco estrelas, apesar do chão duro e da falta de espaço na barraca. Às cinco horas da manhã a claridade do dia acordou a todos. Tomamos um café reforçado, desmontamos as tralhas e às 7 horas estávamos andando. Deixamos o primeiro acampamento a 1.140 metros de altitude, baixamos para 1.040 logo na primeira hora. Após duas horas de caminhada cruzamos o Rio Kukenán, maior e mais caudaloso que o Tek. Atravessá-lo com as mochilas nas costas não foi tarefa fácil. Ficamos um bom tempo tomando banho no rio, nos preparando para o que viria pela frente. Do Rio Kukenán em diante foi só subida. Cada vez mais nos aproximávamos do Tepui Matauí e, à sua direita, majestoso, o Tepui Roraima.
Os Pemóns, índios da Gran Sabana, dizem que “coisas estranhas” acontecem no Tepui Matauí. A montanha é assombrada por espíritos maus. Dizem que o tepui é cercado por cães selvagens, que não deixam ninguém se aproximar. Segundo contam, havia na região três tribos em constante conflito: os Taurepáns, os Arekunas e os Kamarakotos, que formam a etnia Pemón. O Tepui Roraima era a montanha da celebração das vitórias nas lutas entre elas. O Tepui Matauí era a montanha onde iam os guerreiros derrotados. Humilhados, subiam o tepui e se deixavam morrer.
Quanto mais nos aproximávamos no Monte Roraima, maior ele ficava. O caminho para chegar ao acampamento base, onde pernoitaríamos nesta noite, é uma trilha íngreme e pedregosa, com vegetação rasteira, típica da Sabana. Há muita erosão de chuva margeando a trilha. O clima muda drasticamente de uma hora para outra. Sol, chuva forte, sol, vento forte, neblina, um na sequência do outro na mesma manhã.
Chegamos ao acampamento base, a 1.904 metros de altitude, às 13h30. O Monte Roraima está logo ali, na nossa cara. O paredão que o destaca do resto da Terra é impressionante. Vertical. Rocha avermelhada com duas fendas distantes uma da outra, por onde escorrem perenemente fios d’água. São os olhos da montanha. Custa crer que amanhã estaremos no topo. Por onde? A trilha sumiu.
Tomamos banho gelado numa corredeira formada por um dos olhos d’água, próxima ao acampamento. Aqui os mosquitos já dão uma boa trégua. Só os trilheiros vêm nos picar.
A temperatura caiu de 30 graus enquanto caminhávamos para 20 no início da noite. A Estrela Dalva apareceu no céu limpo, só para fazer uma graça. Daí uma hora chovia e nós dormimos na expectativa de um dia difícil amanhã.
Olá trabalho em uma pequena editora e gostaríamos de saber se seria possível uma autorização para utilizar a foto do monte roraima img_0636.jpg em um de nossos livros. Abraços
Olá Rafael,
Sim, pode usar, desde que coloque como crédito da foto “www.mauscaminhos.com”.
Um abraço.
Ricardo